Não vale a pena procurar bodes expiatórios!
Perdi as eleições para a Câmara de Alcácer. Assumo integralmente a derrota. É minha.
Aceitei este desafio ciente da complexidade e gravidade do momento político que o PS local vinha atravessando nos últimos 5 anos.
Como disse, se a tarefa fosse fácil, não faltariam candidatos.
Logo no dia da minha apresentação, em 13 de Março, fui injuriado e invectivado por um grupo de militantes locais. Nessa mesma noite, pensei desistir. Só o não fiz, porque nunca virei a cara ás dificuldades; mas, aí, cometi o primeiro erro, e fiquei.
Sabia que o PS de Alcácer vivia uma profunda divisão, mas sub-avaliei-a na sua real dimensão.
O clima era de guerra civil entre várias sensibilidades e grupos de interesse. Três ou quatro, no mínimo, degladiando-se entre si, com ódios de estimação recíprocos.
Numa tomada de posição aqui publicada, em principio de Julho, referi-me, com todo o rigor e crueza, ao estado de degenerescência política que encontrei no PS de Alcácer, impróprio num partido democrático.
No fundo, mesmo uma parte dos que me convidaram para este desafio, fê-lo sem "amor", só por conveniência, dado não terem condições internas para serem eles a avançar, conforme seu desejo.
A estes problemas internos somavam-se lutas e ajustes de contas na estrutura distrital do PS, face à vitória indesejada, para alguns, da Madalena Alves Pereira.
Para esses, perder as Câmaras de Alcácer e de Grândola, seria meio caminho andado para concretizar uma luta interna sem quartel, contra a líder federativa.
Em Maio, desloquei-me à Fundação Mário Soares, para pedir o apoio do seu Presidente à minha candidatura. Eu que tanto o apoiei nos seus inúmeros combates pela Democracia e pela Liberdade, e que nunca nada lhe pedira, fui confrontado com a sua convicção expressa de que não ganharia essa eleição, posição formatada por algum dos seu mais próximos, que tendo sido "player" no combate distrital do PS, (com ligações políticas intimas aos que em Alcácer me afrontavam e contestavam) estava já a tentar dinamitar a minha candidatura pensando no próximo combate federativo.
Andei, sozinho, em Alcácer, quase 5 meses, ouvindo e aprendendo com as pessoas, num exaustivo porta-a-porta, perante a estupefacção geral e a especulação que tal se devia ás profundas divisões no PS. Diziam que não tinha o apoio de ninguém, nem conseguia formar uma lista.
Só em meados de Julho consegui criar uma equipa, a possível e disponível para ir comigo a votos. Muitos me perguntaram se era a melhor? A todos respondi que a política é a arte do possível. Naquele momento e naquelas circunstâncias era a melhor, num quadro, de divisões e de ameaças de apresentação de candidaturas independentes.
Tentei recuperar o tempo perdido e vir em força para a rua, mas aí cometi o segundo erro. Não fui capaz de vencer inercias no grupo, que só se mostrou disponível para atacar a rua, a quinze dias de eleições, apesar dos meus sucessivos avisos de que uma campanha não se faz, nem se ganha em duas ou três semanas de contactos de rua. Uma falha grave de liderança da minha parte. Continuei a calcorrear Alcácer sozinho, qual eremita, com excepção do Torrão, onde sempre tive o apoio incondicional do Hélder Montinho e da juventude socialista do Torrão. Quantas e quantas vezes, eu, o David Perna e o Hélder, preocupados, conversámos entre nós sobre essa dificuldade de trazer para a rua toda a equipa e as consequências inevitáveis em termos de resultados eleitorais. Falhei. Não tive capacidade de mobilização e dinamização de um grupo, coeso entre si e que tinha uma outra perspectiva sobre como fazer campanha em Alcácer.
Também houve, a nível de juntas, quem lutasse contra a minha candidatura, até ao momento de atingida a data legal da sua apresentação, chegando ao ponto de sugerir nomes alternativos ao meu, mesmo em cima da data limite de apresentação das listas no Tribunal. Tudo isso fragilizou a necessária coesão da nossa candidatura e transmitiu para o exterior sinais nada mobilizadores e abonatórios.
Também aí falhei; devia ter exigido a substituição desse cabeça de lista, mas o tempo já escasseava para reabrir esse processo, em condições satisfatórias e cedi, tentando evitar mais uma querela desgastante.
Durante os sete meses que estive em Alcácer, o PCP desencadeou uma gigantesca campanha boca a boca, e porta a porta, de calúnias, difamações e mentiras contra a minha honra, dignidade e bom nome, aproveitando-se da idade avançada de uma parte maioritária da população, e da elevadíssima taxa de analfabetismo literário e funcional existentes. Sem qualquer hipótese de as poder rebater, dada a impermeabilidade dessa "fatia" da população a qualquer mensagem contrária à "verdade" comunista e à inexistência de meios de comunicação locais necessários a qualquer acção de esclarecimento e de contra-informação.
A somar a tudo isto tivemos contra nós o repúdio generalizado da população contra o comportamento (anti)político do presidente da câmara, durante o último mandato, sem que o PS oficialmente dele se tivesse demarcado, o que fez direccionar esse gigantesco descontentamento contra o próprio Partido Socialista, em prejuízo da nossa lista. As pessoas estavam indignadas e queriam a mudança.
Não houve qualquer cuidado em acabar a obra de requalificação da zona ribeirinha antes de eleições; obra que ultrapassou todos os prazos pré-estabelecidos, com o prejuízo generalizado do comércio local, - sem que o líder autárquico respondesse e desse a cara perante a população em fúria - que teve duas épocas altas (dois Verões) praticamente sem negócio dada a dificuldade de acesso e circulação na zona.
A juntar a tudo isto, e em mais uma vingança contra mim por o ter substituído, Pedro Paredes, na véspera das eleições, proíbe a realização de um Plenário de trabalhadores da Câmara, virando-os contra o PS e contra a nossa lista,através de mais uma manobra de manipulação política do PCP.
Como se tudo isto não chegasse, na madrugada do último dia de campanha é feita uma distribuição porta-a-porta de um abjecto e criminoso panfleto, onde me são feitas as mais absurdas, miseráveis e caluniosas acusações. Este, já não da autoria do PCP, mas tendo a mão criminosa de "socialistas" que sempre atentaram contra a minha candidatura.
De imediato apresentei uma queixa crime contra esses autores "desconhecidos", esperando que a visualização dos vídeos dos bancos, onde foram colocados, permitam chegar ao conhecimento e subsequente procedimento criminal dos seus autores.
"Last but not the least" na ultima terça-feira de campanha, durante um jantar com empresários, no seu discurso, Vítor Proença candidato comunista, disse ter recebido uma mensagem de apoio com os votos e desejo de vitória, do Presidente da Câmara em exercício, do PS. Um autêntico filme de terror.
Este foi, para memória futura, o histórico da minha campanha em Alcácer, onde fui derrotado.
O único responsável pela derrota sou eu, que não tive engenho e arte para me opor a tudo o que de surreal foi acontecendo, aceitando e tentando "remar contra a maré", quando, perante tais circunstâncias, deveria ter recusado a "armadilha" que me montaram.
Sou um Homem sem ressentimentos. Mas jamais esquecerei as humilhações e patifarias que me fizeram em Alcácer. Dei o que tinha e o que sabia. Tenho a minha consciência tranquila, por ter lutado até à exaustão apesar de todas as adversidades.
Acabei esta campanha fazendo o que fiz ao longo de toda a minha vida, Lutando. Com vitórias, muitas, e algumas derrotas, poucas.
A minha vida e a luta pelas minhas convicções não termina perante esta derrota de minha exclusiva responsabilidade.
Não concorri por falta de emprego, ou para fazer carreira política. Fi-lo por espírito de missão e solidariedade a um projecto em que acredito. Se ganhasse a Câmara seria presidente "pro bono", sem poder receber qualquer salário. Como diz o povo, de borla.
Porque nesta fase da minha vida não são as questões materiais que me mobilizam; servir o próximo e o bem comum foi o que me levou a concorrer em Alcácer do Sal, uma terra magnifica que precisa de progresso e desenvolvimento.
Para concluir, importa dizer que, neste quadro, não foi o PCP que ganhou as eleições; foi o PS que as perdeu.